Por Equipe EducaRede.
Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo;
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Paulo Freire
Uma das frases mais famosas do educador brasileiro Paulo Freire, cujas idéias e propostas revolucionaram a estrutura educacional, enfatiza que o processo de ensinar e aprender pressupõe a existência de encontros. Ou seja, toda prática educacional envolve, necessariamente, relações de comunicação. Trata-se de um pressuposto que antecede a existência da Internet ou de qualquer outra tecnologia. É atributo humano produzir e transmitir conhecimento com autonomia.
As mudanças de estrutura e funcionamento da sociedade desencadeadas pelas inovações das tecnologias de informação e comunicação (TICs1) podem oferecer elementos para enriquecer esse encontro fundamental entre quem aprende e quem ensina. Se utilizados pedagogicamente, ambientes e recursos on line2 possibilitam que a atividade reflexiva, a atitude crítica, a capacidade decisória e a conquista da autonomia sejam práticas sempre privilegiadas.
Atualmente, a escola, em sua função social, passa a incorporar a demanda da inclusão digital. Responsável pela transmissão sistematizada dos conhecimentos, agora cabe a ela também favorecer o acesso e a apropriação de códigos e linguagens próprios da era digital, em particular da Internet.
O potencial comunicativo da Internet precisa ser explorado, no sentido de fortalecer uma prática pedagógica dialogada, que negocia sentidos, que escuta e dá voz aos atores envolvidos no processo, criando oportunidades para o trabalho em rede e para o desenvolvimento da capacidade de cooperar, aprender, acessar e produzir conhecimento.
O estabelecimento de relações (sejam pessoais ou cognitivas) é parte fundamental no processo de ensino e aprendizagem e a Internet, por suas características, potencializa isso. “Aprender em rede supõe um paradigma educativo oposto ao paradigma individualista, hoje dominante. Educação em rede supõe conectividade, companheirismo, solidariedade.” (GOMEZ 2004:14)
A Internet semeia novas possibilidades educacionais, novos processos, novas estruturas que estimulam, provocam e facilitam a colaboração. Nela os saberes individuais são valorizados e contribuem para a construção, que é do grupo.
Ensinar e aprender em meio digital: ganhos e desafiosUma ação educacional pode ser perfeitamente consistente em seus objetivos e metodologias sem utilizar nenhum recurso tecnológico digital. Porém, ao incorporar uma ou mais etapas de trabalho a distância, em meio virtual, precisa, necessariamente, abranger em seu planejamento o desenvolvimento de aprendizagens no âmbito do letramento digital.
A incorporação das inovações tecnológicas só tem sentido se contribuir para a qualidade do ensino. A simples presença de novas tecnologias na escola não é, por si só, garantia de maior qualidade da educação, pois a aparente modernidade pode mascarar um ensino tradicional baseado na recepção e na memorização de informações. (BRASIL 1998:141)
A inserção da Internet no cotidiano escolar é eficiente quando consegue promover atividades que façam sentido para o educador e o aluno, a partir de uma proposta que vai além da sala de aula, integrando outros espaços de aprendizagem que estejam dentro – como a sala de Informática – ou fora da escola – como o museu histórico da cidade, por exemplo.
Diante de uma sociedade cada vez mais complexa, que demanda constantemente novas habilidades para aprender a aprender sempre, a Internet potencializa e vai ao encontro de um trabalho por projetos, pois valoriza não apenas o resultado (conteúdo apreendido), mas também o processo educativo vivenciado.
O EducaRede, além de privilegiar a interação, as relações interpessoais e a construção
colaborativa como princípios educacionais, dedica especial atenção ao trabalho por projetos
como ação pedagógica, pois, como se sabe, essa metodologia visa promover aprendizagens
a partir de situações reais e concretas que possam despertar o interesse dos alunos.
O uso da Internet na educação potencializa o alcance da atividade pedagógica, proporcionando aprendizagens específicas no âmbito do letramento digital que podem ser sintetizadas em três aspectos: aprender a pesquisar, aprender a publicar conteúdos e aprender a comunicar-se no ambiente digital.
Tais aprendizagens potencializam o letramento dos alunos, uma vez que desenvolvem habilidades de leitura e escrita com um sentido social. Pode-se dizer que ao letramento propriamente dito tem-se incorporada uma nova dimensão, que é a do letramento digital. Nem sempre é possível trabalhar os três aspectos concomitantemente, mas, ao fazer uso da Internet, um deles certamente será envolvido. É importante que o professor ofereça aos alunos oportunidades de se familiarizarem com essa nova tecnologia que é a Internet e proponha, a partir desses três aspectos, roteiros de trabalho, orientando diferentes processos de elaboração e construção do conhecimento.
Letramento digital: novas práticas letradasAprender a pesquisar
Diante de uma grande quantidade de informações veiculadas na Internet, é preciso formar o leitor para selecioná-las. Que sites trazem informações mais confiáveis, por exemplo, em caso de pesquisa? Quais conteúdos de domínio público podem ser usados sem problemas de direitos autorais? Que locais na rede oferecem informações culturais ou científicas qualificadas? Essas são algumas das questões que podem nortear o trabalho com leitura crítica de conteúdos da Internet, para possibilitar que o aluno desenvolva sua capacidade de seleção de informações.
Esse trabalho de pesquisa na Internet envolve processos cognitivos, tais como levantamento de hipóteses, análise, comparação e síntese, além de habilidades para leitura de textos não-lineares, como hipertextos, e aqueles que se articulam também com imagem, áudio e vídeo.
Aprender a publicar
Uma possibilidade importante na Internet é a facilidade de publicação e difusão de qualquer tipo de conteúdo (texto, imagem, áudio ou vídeo). No meio digital, pode-se publicar a partir de soluções sofisticadas ou simples, como as ferramentas para construção de blogs, voltadas principalmente para o público leigo. Essa característica contribui para o desenvolvimento de projetos pedagógicos em que professores e alunos produzam trabalhos que os qualifiquem como autores, e não como meros consumidores de informação.
Contudo, a publicação de conteúdos na Internet escapa à avaliação e ao controle de qualidade. As pessoas podem publicar o que quiserem e deixar disponível para qualquer um ler e decidir individualmente sobre sua qualidade. Para assegurar qualidade no uso educacional desse recurso, é necessário orientar os alunos a planejar o que será divulgado, definir tamanhos e tipos de documentos, a navegação entre eles, num trabalho que envolve produção e edição de informações. É preciso que o aluno tenha algo importante a dizer e a publicar, e que se veja como autor.
Aprender a comunicar-se digitalmente
Ambientes interativos como fóruns, salas de bate-papo e listas de discussão são os mais populares na Internet. Todos têm a finalidade de colocar grupos de pessoas em comunicação, mas as características de cada um os tornam mais adequados a este ou àquele tipo de uso.
Do ponto de vista da educação, representam uma oportunidade para os professores trabalharem com seus alunos as habilidades de comunicação e expressão e suas particularidades no meio digital. Além disso, possibilitam a realização de trabalhos colaborativos, intercâmbios, debates, grupos de estudos, entrevistas etc.
Fonte: Caderno de Orientações Didáticas – Ler e Escrever – Tecnologias na Educação
http://www.educarede.org.br